Eduardo Horta

Apesar de meus estudos e minha formação terem tangenciado o campo do urbanismo, o meu interesse está voltado para o projeto de arquitetura da edificação. Explico o termo tangenciando: Minha dissertação de mestrado analisava a influência da atividade comercial nas suas diversas manifestações possíveis nos térreos das cidades. Minha tese de doutorado investigava as transformações ocorridas nos térreos da cidade do Rio de Janeiro ao longo do século XX. Ou seja, nos dois casos, a relação entre o construído e o espaço da cidade permeava minhas preocupações. Entretanto nas disciplinas de projeto meu interesse recai sobre o estudo do edifício e suas partes fundamentais. Seus aspectos morfológicos e o percurso entre a concepção e o detalhamento, entre as várias escalas de trabalho que nos permite analisar decisões projetuais e os aspectos construtivos. O estudo dos elementos de acesso e da soleira, das janelas na fachada e do peitoril, das escadas e do detalhe dos degraus. A arquitetura que deslumbra o passante e o revestimento que agrada ao tato. Me interesso pelo edifício pretencioso construído para ficar na história, mas também pela poesia da forma estranha, do feio, do comum. Me interessa o edifício que assume dignamente seu papel de parte integrante e ativa de um conjunto urbano, não aquele que se isola, que quer ser mais alto, mais forte e mais surpreendente. Edifício tem que ter cara de edifício, não de jacaré ou de nave espacial. De qualquer forma, considero o edifício um organismo em transformação, em permanente movimento de obsolescência e renascimento. A academia tem que começar a prestar atenção no trabalho sobre os edifícios existentes e parar de imaginar a cidade como lugar permanente do novo. Nesse movimento de requalificação dos edifícios existentes, quais são os elementos que se tornam permanentes e quais são aqueles que se transformam? Nessa dinâmica, onde entram a ordem, a proporção, a estrutura, o caráter, a essência? Como consequência dessas indagações, me interessa, finalmente, compreender o que seria uma arquitetura contemporânea carioca.