ESPAÇO MORTO: Um olhar sobre a relação dos cemitérios urbanos com a cidade contemporânea.
Orientado pelo Prof. Carlos Feferman, o arquiteto recém formado Miguel Ángel Carrasco foi premiado com o 29º Opera Prima, pelo seu Trabalho Final de Graduação.
O trabalho consiste na inserção de novas estruturas sepulcrais capazes de absorver as mudanças necessárias no espaço que hoje abriga o cemitério, e resolver a desconexão urbana por ele infligida. Apesar das questões abordadas serem aplicáveis a diversos cemitérios e cidades mundo afora, o trabalho se desenvolve em dois territórios de experimentação, localizados ambos na cidade do Rio de Janeiro. Guardadas suas singularidades, os dois se caracterizam pela presença de um extenso entorno urbano imediato. Estes limites não são homogêneos; alternam áreas subaproveitas com áreas densamente povoadas, porém neste caso precariamente urbanizadas.
A resposta recorrente da arquitetura contemporânea às pressões urbanas impostas à necrópole tem sido a construção de cemitérios verticais. Existe uma contradição simbólica entre o ato de enterrar e a construção de uma estrutura aérea, destinada a ruir. O projeto reconhece o valor simbólico do solo, transformando-o e reconfigurando-o. O solo antes plenamente ocupado pelo cemitério agora é parcialmente liberado. Suscita o surgimento de um espaço público, fluidamente interligado à cidade, onde agora além dos mortos, também habitam os vivos. O amplo espaço livre criado permite o desenrolar de eventos antes inimagináveis neste espaço da cidade.
A cidade Informal, crescida de maneira desordenada, pressiona cada vez mais os limites do cemitério. As casas empilham-se sobre os muros da necrópole, o inflexível limite entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Nas bordas do cemitério surgem plataformas híbridas capazes de solucionar desconexões da cidade, rearticulando diferentes níveis e fluxos da metrópole. Materializam a sobreposição de dois mundos que antes pareciam antagônicos. A escavação da rocha cria um espaço de morte, justaposto ao espaço público da superfície, um verdadeiro espaço político, surgido no lugar do antigo espaço morto da necrópole. Formas de atravessamento, estratégias de liberação do solo e justaposições programáticas encerram o conjunto de operações propostas com o intuito de repensar a relação entre o cemitério e a cidade.